Bourbon-L'Archambault

No primeiro final de semana na França, aproveitei o sábado para conhecer Bourbon, uma hora de ônibus a partir de Vichy. É uma antiga vila em que os moradores conservaram... uma fortaleza medieval! Obviamente, muita coisa já está em ruínas, mas a estrutura da fortaleza permanece. E o melhor? Há uma sala de alquimia, um quarto, um porão para abrigo de mantimentos e uma sala de armas com objetos para nos dar uma idéia do que era realmente viver na idade média.


Quanto à vida mediaval, um ponto fundamental antes de seguirmos: sim, era uma imundície de cair o queixo. Especialmente para os brasileiro
s, tão afeitos à higiene pessoal. Longe de mim querer abraçar o clichê de "franceses não tomam banho", mas eles também não ajudam... aliás, vou guardar a idéia para um novo post: "Vivendo na França: a arte de desviar dos oderes alheios". Aí, meu leitores vão entender o que é viver tendo que escolher sua cadeira no ônibus pelo lugar "menos fedorento", o que é sentar sempre perto das janelas e nunca, nunca, em hipótese alguma, abraçar ninguém. Porque nós,brasileiros, somos um povo fechado, sabe? Não gostamos de abraços de quem não toma banho há mais de 24 horas. Sabem qual é a média de banhosna França? Ah, vou guardar para o outro post...

E a fortaleza? Pois bem. Uma escada em caracol super íngrime nos leva aos andares superiores. Um desafio se equilibrar mesmo calçando 36! Tudo bem que os france ses sejam pequenos (e a estatura na idade média era ainda menor), mas tudo tem limites... nem que sejam os da sustentação física.



Primeiro andar? Sala dos alquimistas! Potes, utensílios, ferramentas que parecem ter todo um sentido, mas que nós nunca sabemos qual é ao primeiro olhar. É engraçado, mas acho que todo mundo entrou e pensou "olha, é um...! um...! ah, um troço". O utensílio de cerâmica da foto é uma "destiladora" (tradução mais que livre), e era usado para separar as impurezas de bebidas. Em um dos processos do alquimista, ele chegou a uma bebida alcóolica que ganhou adeptos em toda a Europa. Nascia, assim, o pai-avô do hidromel. Desculpem furar a árvore genealógica dos destilados, mas minha memória não ajuda... eu não lembro o nome da bebida por nada, seja em francês, português ou aramaico!

Segundo andar: sala de banho. Ah-ha! É de verdade? Tem sala de banho na França? Não, é mentira. Mesmo. É apenas uma representação do que seria um banho na idade média. Não havia sala de banho, porque eram raríssimos. Então, quando alguém ia tomar um banho, era em qualquer lugar mesmo. Trazia-se a "banheira" e ponto final. Começo da conversa: como na fortaleza habitava apenas o senhor da terra e sua família, só eles tomavam banho. É claro: muito frio, o banho precisava ser quente, quem ia aquecer panelas e panelas de água? Só quem tinha servos. Ah, os privilégios da nobreza... reparem, meus leitores, que há uma espécie de lençol sobre a banheira. Decorativo? Enfeite? Não, peneira. Como assim? Simples: a água era escassa, um banho era um parto e, depois de ter tido todo o trabalhão para trazer a banheira e esquentar a água, por que não aproveitar? O senhor entrava, afundava o lençol, tomava seu banho e... sabonete? Estamos na idade média, faça o favor de lembrar... reduza suas expectativas a um ramo de ervas para pinicar a pele enquanto você o esfrega no corpo. Fim do banho? O senhor sai com o lençol, com o qual sua esposa entra na água de novo. Outro banho. Depois? O primeiro filho. O segundo. O décimo (idade média, lembra?). E a água? A mesma! Que beleza de banho...

Ah, você, brasileiro, ficou enojado? Então, para completar o seu espanto, só mais duas informações:
  • O banho era um acontecimento raríssimo. Só se tomava banho em dia de festa, casamento ou feriado religioso. Então, um senhor devia tomar, no máximo, uns 20 banhos... por mês? Não! Por ano!
  • E o resto? E quem não era senhor de terras? Bem, esses podiam lavar as mãos e os rostos em tinas d'água. Banho? Só no rio, mas quem aguenta o frio de -20º? O inverno devia ser longo... e fedorento (este é por minha conta).
Você ficou espantado com o banho? Pois você ainda não você ainda não viu nada. Pense em como deveria ser o banheiro. Pensou? Até que não é mal, não é? Uma cabine isolada, tranquila, para pensar na vida. E depois? É claro que você não vai esperar achar uma descarga na idade média. Mas e o esgoto? E o encanamento? Pra onde vai tu do que... deixa pra lá. Veja você mesmo, leitor. Um buraco! E para onde vai o que cai do buraco? Sejamos francos: para a cabeça do primeiro desavisado que passar na rua. Sim, porque você está na idade média, não em um SPA.














Mas não se assuste, leitor! Tudo é lindo na fortaleza medieval em um dia de sol (após 500 anos é mole dizer isso). Não há com o que se preocupar. Dê uma olhada na vista das torres e suspire comigo: ah, a França medieval...

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