C'est ça la France...?


Em Vichy, eu fazia aulas de Francês de manhã e, à tarde, participava de um atelier, ou seja, uma aula sobre um tema que eu podia escolher. Entre Gramática, aperfeiçoamento fonético, comunicação oral e outras aulas genéricas, eu não tive dúvidas quando li "Civilização". Pensei logo "civilização de que? De quem? Qual?". Essa é pra mim!

Antes de falar sobre civilização, leitor, permita-me uma defesa pró-civilização e um tanto quanto anti-gramática. Quando comecei a estudar Inglês (e Francês também) para as provas de proficiência, comprei logo duas gramáticas fortes, daquelas sem desenhos nem tirinhas. Porque, vamos combinar, tem coisa mais ortodoxa que Gramática? Para que o eufemismo? Gramática é Gramática, seja em Português, Aramaico ou Grego. É chato mesmo. Que me perdoem os fanáticos, mas que graça tem um livro que existe para dizer que a "mini saia" virou "minissaia"? Por essas e outras, pulei a Gramática e todos os genéricos associados na lista de cursos...

A aula de Civilização Foi a melhor escolha que eu poderia fazer. Digo sem medo de errar, porque eu tinha muita disposição para ir às aulas de Civilização. Para as aulas formais de Francês, nem tanto (honestidade é uma virtude, leitor, mesmo quando nos torna meio cara de pau). A receita é tiro e queda para quem, como eu, gosta de um pouco de história, um pouco de gente, um pouco de sociedade, um pouco de nem sei o quê. É, acho que isso define bem a aula: um pouco de tudo, um pouco da França! Em um dia falamos de comida, em outro falamos de cultura, outro de música e, em vários deles, sobre as imensas, incomensuráveis, irremediáveis questões que assolam os franceses.


Não, não estou exagerando não: a primeira coisa que eu aprendi nas aulas de civilização (e no dia-a-dia, na pele), é sobre o modo como os franceses vêem os problemas, sejam eles grandes ou pequenos. Qualquer problema é gigante, qualquer questão a ser decidida pára o mundo. Embora possa parecer uma crítica, não é nem de longe: os franceses são muito orgulhosos dessa característica. Eles se consideram o povo mais ativo da Europa e estufam o peito para dizer que, na França, todo mundo participa, todo mundo tem opinião sobre tudo. Uma música famosa, que se chama "C'est ça la France" (A França é isso aí), traz em seus versos pequenas imagens que relatam a França. E lá vêm o vinho, os salsichões, a tríade Igualdade/Fraternidade/Liberdade e... a disposição de erguer os braços ao primeiro sinal!

Graças à fama francesa de fazer muito barulho frente a quaquer questão, os ingleses têm uma piadinha em que um líder político, escutando uma multidão enfurecida em protesto, pergunta a um subalterno quantos cidadãos deve haver do lado de fora.
- Uns 100 mil, senhor. Todos franceses protestando.
- Franceses protestando? Então devem ser só uns 50. Vamos almoçar.

Como o vento que venta lá venta cá, os franceses não perdem a chance de cutucar os ingleses, que aqui têm o carinhoso apelido de "roast beefs". Por que? Ainda estou tentando descobrir, mas que é engraçado, é!

Eis que, muitas linhas depois, meu leitor se questiona: "muito bem, civilização, protesto, roast-beefs... e esse galo aí, hem?". Permita-me apresentá-lo, leitor, ao Coq Gaulois, um dos símbolos mais famosos da França. Na verdade, ele já era famoso antes mesmo da França ser França. Pelo que eu li, ele surge como um trocadilho com a palavra latina para "galo", que era próxima da palavra "gaulês", que designava o habitante da Gália, que ficava no território francês antes da França ser França (isso é que é aula de história...).

Seja porque for, a verdade é que Le Coq é o símbolo do orgulho francês e não há um cidadão que não se infle para dizer "nosso galo". Quando perguntamos "mas por que o símbolo da França é um galo?", eles têm sempre uma resposta na ponta da lingua (uma melhor que a outra, por sinal):

- Porque o galo é o primeiro animal a dar sinal do raiar do dia. Nós vemos as luzes antes dos outros.

- Porque o galo é o animal que mais faz barulho. Ele dá notícia de tudo para os outros (viu? eles sabem da fama...).

- Porque um galo continua correndo mesmo quando lhe cortam a cabeça (emblemático... alguma relação com os tempos da guilhotina?).

Por fim, minha professora de Civilização disse que a melhor resposta não pertence aos franceses, mas aos "roast beefs", que desvendaram o mistério. Os franceses têm o galo como símbolo porque é o único animal capaz de cantar mesmo quando tem os pés na mer... . É. Não deixa de ser uma qualidade, né? Como prova da minha admiração pelos franceses e seu galo, mostro o meu preferido: o galo esportista! Sim, a marca de esportes mais famosa da França não poderia ter outro nome...






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